Para ele, a impressão era de que aquele seria mais um dia normal de chuva, assim como os outros inúmeros que presenciou nos cinco anos em que vive no município. Mas não foi. Em questão de minutos, a ventania mostrou toda a força quando as telhas da casa, onde mora com a esposa, começaram a voar.
Giancarlo é só um entre as milhares de pessoas que foram atingidas por um fenômeno que, um ano depois, ainda traz marcas: o ciclone bomba, considerado pelo governo do Estado como o maior desastre com ventos da história de Santa Catarina. Naquele dia, os catarinenses lidaram com a força de rajadas que ultrapassaram os 130 km/h, junto com tempestades. A estimativa, segundo o informe técnico do dia 21 de agosto da Defesa Civil, é de que ao menos 192 pessoas ficaram desabrigadas e 11.558 desalojadas. Outros 112 ficaram feridos, fora o prejuízo que chega à casa de R$ 682 milhões, em 204 municípios catarinenses, segundo o governo do Estado.
Além de Chapecó, as mortes foram registradas em Tijucas, Santo Amaro da Imperatriz, Governador Celso Ramos, Rio dos Cedros, Ilhota, Garuva, Balneário Piçarras Itaiópolis, Canelinha e Brusque.
O professor da Universidade Regional de Blumenau (Furb) e doutor em Meteorologia, Dirceu Luis Severo, diz que principal característica desse tipo de ocorrências como a de 30 de junho do ano passado é a intensidade.
Apesar da tragédia ser atribuída a passagem do ciclone, na época, a Epagri/Ciram emitiu uma nota técnica dizendo que, após avaliação, concluiu-se que os ventos de mais de 100 km/h foram provocados pelas tempestades, antes da passagem do ciclone por Santa Catarina.
— Embora temporais dessa magnitude ocorram em Santa Catarina, em geral, eles são mais localizados, sem atingir tantos municípios em um único evento, como foi o dia 30 de junho. Além disso, o que diferencia a situação é a influência de vários fatores, como a passagem de frente fria, deslocamento de uma baixa pressão no Oeste e a atuação do jato de baixos níveis — explica.
— Na academia, em frente de casa, as telhas voaram como se fosse papel. Elas destruíram os carros que estavam estacionados e chegaram a atingir o muro aqui de casa, que caiu com o impacto. Além das telhas, toldos, placas e calhas voaram. Tem calha aqui de casa que eu nunca mais encontrei — relata o professor.
— Hoje quando dá um vento mais forte o sentimento daquele dia volta todo na nossa cabeça, principalmente a insegurança e aquele pensamento: o que será que vai acontecer? Será que vamos passar por tudo isso de novo? — desabafa.
— Ela era uma pessoa muito boa, querida, muito conhecida na cidade, foi uma tragédia — relembra a mãe.
— O sonho dela era ver os filhos bem e deixar eles com uma situação boa. Até antes [de morrer], ela falou que queria deixar os filhos dela bem e se acontecesse alguma coisa era para eu não abandoná-los.
— É muito difícil, esse mês é como se fosse os primeiros dias. O trauma fica, porque nós não desligamos, dorme e acorda e fica lembrando o momento — desabafa.
Dez anos depois, foi a vez do Vale do Itajaí. As fortes chuvas que atingiram a região em julho de 1983 provocaram o aumento do nível do Rio Itajaí-Açu e, com isso, uma enchente que atingiu cidades como Blumenau e Rio do Sul. Ao todo, 49 morreram e mais de 197 mil pessoas ficaram desabrigadas em 90 municípios catarinenses.
Em relação à passagem de ventos, Santa Catarina também viveu outra tragédia em 2004 com a passagem do Furacão Catarina em março. Ao todo, mais de 27,5 mil pessoas ficaram desalojadas, 36 mil casas danificadas, além de 518 feridos e 11 mortos. Os prejuízos chegaram na marca de R$ 1 bilhão, sendo que 14 cidades decretaram estado de calamidade pública.
Comentários