SC registra mais chuva em fevereiro, mas estiagem ainda castiga cidades do Oeste.
Boletim do governo do Estado aponta volume mais próximo da média histórica, mas insuficiente para amenizar efeitos da seca.
O documento aponta que grande parte do Estado teve média de chuva entre 50 e 150 milímetros no mês de fevereiro. O Extremo Oeste foi a região que teve os maiores volumes, chegando à faixa entre 150 e 200 milímetros. Segundo o relatório, a maior parte da chuva registrada em SC foi causada por temporais isolados, causados pela combinação de calor, umidade e instabilidade.
A maior defasagem do volume de chuva registrado em comparação com a média histórica (chamada pelos técnicos de anomalia negativa) ocorreu na faixa Leste do Estado (Litoral Norte, Vale do Itajaí, Grande Florianópolis e Litoral Sul). Nessas áreas, o acumulado ficou entre 120 e 240 milímetros abaixo do esperado.
Na prática, mesmo com o registro maior de precipitações, a situação da estiagem se agravou em Santa Catarina. O número de cidades na classificação de seca extrema mais que dobrou, passando de 33, em 18 de fevereiro, para 70, no final de mês. Além disso, duas cidades entraram em uma faixa ainda mais grave, em que não havia nenhum município no último boletim: a de seca excepcional: É o caso de Bom Jesus do Oeste e de Jupiá, no Extremo-Oeste.
Quando o assunto é o nível dos rios, o cenário é de estabilidade. O número de cidades em nível crítico se manteve praticamente no mesmo patamar, com leve queda (passou de 18 para 14). A diferença ocorreu no número de cidades que subiram do nível de atenção para o de alerta. Há 23 municípios nesta classificação, segundo a última edição do boletim, contra nove do levantamento anterior, de 18 de fevereiro.
A situação traz prejuízos para a população, que tem dificuldades no abastecimento de água e nas tarefas diárias e também na economia. A agricultura e a pecuária, atividades fortes no Oeste de SC, sofrem com os desafios de manter os animais e de não perder a produção.
A última estimativa de perdas da Epagri, divulgada nesta terça-feira, aponta uma perda de até 35% no cultivo do milho, 31,5% no feijão e 23% na soja.
Em dinheiro, a estimativa mais recente, feita ao final de fevereiro, era de que o Estado já havia perdido 3,7 bilhões com a estiagem.
Municípios têm desabastecimento e perdas na economia
Os municípios do Oeste e Extremo Oeste ainda sofrem com os severos efeitos da seca, mesmo com a pouca chuva que passou a ocorrer na região. O prefeito de Jupiá, Valdelírio Locatelli (MDB), diz que recentes precipitações amenizaram um pouco a situação, mas que as perdas na agricultura já estão consolidadas. O cultivo de soja, uma das principais atividades econômicas locais, teve perda de até 60%, segundo o relato de produtores.
O município não precisou fazer racionamento na área urbana, graças a um sistema de poços artesianos e à canalização feita junto a um município vizinho. No entanto, na área rural, foi necessário transportar água para consumo humano e até mesmo para o de animais, em áreas de cultivo de gado, já que os rios também secaram.
– Foi bem séria a situação. Agora deu uma amenizada, mas a gente espera que ocorra uma precipitação maior para que se consiga ao menos amenizar o atendimento de água, ou para que agricultores consigam ter água corrente nos rios para que o trabalho comece a melhorar – projeta.
Em Bom Jesus do Oeste, outra cidade apontada em condição de seca excepcional, o prefeito Aírton Reinehr (MDB) diz que o município também precisa buscar água de poços e açudes, a exemplo do que acontece em várias cidades do Oeste. No cultivo da soja, a perda na produção chega a 60%, segundo Reinehr.
– Desde ano passado, estamos "puxando" água para agriculturas de frango, suíno, produção de leite, para ter água em reservatório e até para consumo humano. Choveu algumas vezes [nas ultimas semanas], mas para recuperar até ter os reservatórios como se tinha, vai ser questão de meses – avalia.
Cidades maiores do Oeste já começam a sentir efeitos positivos de um maior volume de chuva. Em Chapecó, a prefeitura informou que não há rodízio no consumo desde a última chuva forte. A captação de água no rio Uruguai e a distribuição no interior, no entanto, continuam sendo feitas. O município também trabalha na abertura de um reservatório no bairro Eldorado e na perfuração de dois poços, nos bairros Efapi e Paraíso.
Melhora da estiagem depende de chuvas persistentes
Embora SC esteja registrando mais períodos de chuva, a condição ainda está longe de amenizar a estiagem vivida por cidades da parte Oeste do Estado. A resposta sobre quando os efeitos da seca serão suavizados na região ainda depende da previsão do tempo.
O pesquisador de Hidrologia da Epagri/Ciram, Guilherme Miranda, explica que as chuvas atuais têm volumes altos, mas ocorrem em um curto intervalo de tempo, às vezes inferior a duas horas.
Como a capacidade de infiltração de água no solo é menor do que a vazão da chuva, a maior parte do volume “vai embora”. As precipitações acabam sendo superficiais, e o solo e os reservatórios voltam a ficar secos em pouco tempo.
– O que é preciso é de uma chuva menos intensa, mais demorada, e, claro, que tenha uma condição do solo de cobertura que seja propícia à infiltração de água – afirma.
Segundo ele, ainda não é possível saber quando essa condição de chuva que seria capaz de combater com mais força os efeitos da estiagem pode ocorrer nas cidades de SC.
– O que a gente observa nas discussões técnicas que temos é que o padrão meteorológico e climatológico não tem mudado para ter uma condição hidrológica favorável a ter essa situação, não de chuvas intensas, mas de chuvas persistentes – aponta.
Chuva muda de perfil no fim do verão
O boletim do governo do Estado aponta que a previsão para o trimestre entre março e maio de 2022, de forma geral, é de chuva abaixo da média em SC, ainda por efeitos do La Ninã. No entanto, na primeira quinzena de março a expectativa é de chuva mais frequente para as áreas do Centro e Leste do Estado.
O relatório aponta que, nos meses finais de verão e na transição para o outono, a atmosfera começa a mudar de padrão, e a chuva, que no verão ocorre por causa do forte calor durante o dia e da umidade, passa a acontecer em função da passagem de frentes frias. Essa condição é mais favorável à chuva persistente, necessária para levar melhora à seca no Oeste do Estado.
Fonte: DC
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