A paulista Rebeca Andrade conquistou nesta quinta-feira (29) a medalha de prata na final individual geral da ginástica artística. Foi a primeira medalha olímpica de uma atleta brasileira nesse esporte.
Quatro aparelhos de ginástica, milhões de aparelhos de televisão ligados. Nos bastidores, haja coração. É que a cada voo, a cada aterrissagem, enquanto as mãos pareciam levar uma eternidade para encontram a barra, ou os pés para encontrar a trave, o nosso coração ficava preso na garganta. Todo mundo nervoso, e ela, tranquila, nos ensinando sobre esporte e sobre a vida.
"Não se brinca com a cabeça. Eu trabalho muito com a minha psicóloga por causa disso. Hoje, eu sou uma atleta diferente justamente pela cabeça que eu tenho", explicou.
Os joelhos que suportam os impactos já sofreram com três cirurgias, e os ombros souberam suportar o peso de um favoritismo que acabou sendo atribuído a ela pela ausência da supercampeã Simone Biles. E Rebeca respondeu com leveza. Liderou no salto e nas paralelas. Caiu para terceiro lugar na trave. Um pedido de revisão aumentou a nota em 0,1 - que seria precioso na contagem final.
Mesmo com dois erros no solo, que geraram penalizações, Rebeca voltou a fazer uma apresentação muito segura e, com a soma final, ficou atrás apenas de Sunisa Lee. Mesmo sem Simone Biles, os Estados Unidos levaram o ouro no individual geral pela quinta vez seguida em Olimpíadas. A russa Angelina Melnikova foi bronze e Rebeca conquistou a prata.
"Eu acho que mesmo se eu não tivesse ganhado a medalha, eu teria feito história, justamente pela minha história, pelo meu processo para chegar até aqui", afirmou.
A história de uma menina de Guarulhos, criada pela mãe, Dona Rosa, que sustentava sozinha os oito filhos. Que cresceu cercada de referências.
Em 2009, com apenas 9 anos, teve a oportunidade de conhecer de perto Daiane dos Santos e Laís Souza e, logo depois desse encontro, mudou de cidade para buscar o sonho de ser ginasta. Hoje, é treinada por Francisco Porath, no Flamengo.
"Ela se tornou uma pessoa boa. Ela é uma atleta incrível e passou por todas essas dificuldades e, hoje, ela é quem ensina muita gente, ela é quem me ensina muitas vezes a não desistir", afirmou o treinador.
Essa medalha não tem um nome. Ela tem muitos nomes. É a primeira medalha da história da ginástica artística feminina do Brasil. É daquelas que vieram antes da Rebeca e daquelas que virão depois também.
“A primeira medalha mundial de ouro do Brasil foi negra. E, agora, a gente tem a primeira medalha olímpica da ginástica artística e é uma negra. Durante muito tempo disseram que as pessoas negras não poderiam fazer certos esportes. E aí a gente vê hoje, a primeira medalha de uma menina negra. Tem uma representatividade muito grande atrás de tudo isso. É uma mulher, uma menina que veio de uma origem muito humilde, foi criada por uma mãe solo, Dona Rosa – porque o pai da Rebeca é vivo, mas não é presente na vida dela -, aguentou tudo o que ela aguentou, todas as lesões e está aí hoje para ser a segunda melhor atleta do mundo. Uma brasileira”, disse, emocionada, a comentarista Diane dos Santos.
Rebecas, Daianes, Danieles, Jades, Flavias, Laíses, Luísas, Sorayas, Georgettes e tantas meninas e mulheres de fibra representadas por essa menina-mulher que recebeu os parabéns de Nadia Comaneci, a eterna ginasta nota dez. Mas, assim que deixou o pódio, ela queria mesmo era ouvir a voz da Dona Rosa.
"Eu fui tentar ligar para ela e ela não me atendeu, mas ela me mandou um áudio dando parabéns, falando que me amava muito, toda a minha família. Gente, todo mundo acordado lá no Brasil, me mandando um monte de mensagem. Muito obrigada, galera", vibrou Rebeca.
“Não tem palavras para descrever o orgulho que estou sentindo da minha filha Rebeca Andrade. Ver que valeu a pena tanto sofrimento lá trás, tanto esforço. Para hoje ela chegar nas Olimpíadas e ainda conquistar uma medalha. Estou muito feliz e muito orgulhosa mesmo, de verdade. Filha, te amo muito”, comemorou Rosa Rodrigues, mãe da Rebeca.
Rebeca ainda pode ir além. Tem mais duas finais pela frente: no salto e no solo. Alô, Dona Rosa, fica com o celular na mão que ela ainda pode te ligar para contar que ganhou mais medalhas!
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