A tradição de “secar as lagoas” é comum nessa época do ano em Santa Catarina. Com a ajuda de amigos e vizinhos, criadores de tilápia põem a água barrenta para fora e aproveitam para faturar em tempos em que a carne branca se torna a preferência absoluta dos cristãos. Apesar de 93% dos 31 mil criadores do peixe no Estado serem amadores, segundo a Epagri, um minucioso e profissional estudo de melhoramento genético está por trás do aumento da produção.
Dados de 2015 mostram que foram 30 mil toneladas produzidas em Santa Catarina naquele ano. Em 2022, ano do último levantamento, foram 42,1 mil toneladas, um aumento de 40%. Isso está atrelado a uma linhagem de tilápia chamada de SC04, melhor adaptada às características de clima e cultivo nas nossas regiões. Isso ajudou que o Estado, inclusive, se tornasse o quarto maior produtor do peixe em todo Brasil, conforme dados do Ministério da Agricultura.
A maior eficiência de produção por conta dessa seleção dos melhores indivíduos da espécie possibilita o aumento da oferta e, como consequência, torna a tilápia a queridinha da Quaresma em Santa Catarina. Apesar de outros peixes de água salgada terem mais pompa em tempos de Páscoa, como o bacalhau, é na carne leve e pouco gordurosa da tilápia que muitos catarinenses encontram a opção para obedecer às tradições cristãs. E tudo isso tem como pano de fundo a oferta de alevinos (peixes filhotes) adequados às condições do Estado.
— Com isso, o projeto de melhoramento de tilápia consegue chegar até o produtor com um animal de ótima qualidade genética para que ele obtenha um bom ganho econômico, atendendo assim a necessidade da cadeia da piscicultura — destaca Bruno Corrêa da Silva, pesquisador da Epagri e coordenador do programa Tilápia SC04.
Para alcançar esses números, o trabalho de melhoramento genético da tilápia envolve a marcação individual dos peixes pesquisados, por meio de nanochips instalados nos animais. Após a identificação, cada peixe tem um pedaço da nadadeira retirado. Esse material vai para o laboratório de biologia molecular para fazer a análise do DNA e, a partir daí, oferecer insumos para os cientistas.
Só para se ter ideia, um levantamento da Epagri aponta que o ganho em crescimento da tilápia é de 34%, fazendo com que ela se desenvolva mais rápido e, como consequência, seja vendida mais cedo. Entre 2019 e 2022, só para se ter ideia, o lucro operacional por hectare foi de R$ 54,9 mil para os produtores.
— A tilápia virou um peixe da moda porque o filé é carnudo, tem sabor neutro e a espinha fica concentrada bem no meio, fácil de remover. Os cozinheiros e as pessoas em casa têm descoberto cada vez mais a versatilidade da tilápia — analisa o chef alemão Heiko Grabolle, do restaurante Biergarten Pomerânia, um dos estabelecimento no Estado que aposta no peixe para receitas nesta época do ano.
Quem agradece são os produtores que mesmo sem viver da tilápia, têm no saboroso peixe uma oportunidade de renda extra, caso do casal Lore Wachholz Gaulke e Rubens, que venderam 12 toneladas só na Quaresma do ano passado:
— As tilápias representam 95% das nossas vendas.
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