Um dos gigantes na agropecuária do país, o Rio Grande do Sul espera a água baixar para calcular os prejuízos no campo. Mas já é certo que pequenos produtores precisarão recomeçar do zero. A água danificou máquinas e destruiu lavouras. Mesmo os produtos que já foram colhidos começam a vencer, por causa da umidade e do colapso da cadeia logística.
Essa é a realidade do produtor Harrison Chaves Barcelos. Ele planta soja no município de Glorinha, leste do estado. Quando a chuva chegou, o que estava no pé foi perdido. Os grãos já armazenados ficaram retidos, em decorrência dos bloqueios nas estradas e do caos instalado em todo o setor produtivo. A mercadoria estava toda vendida. Continuou sendo atingida pela chuva insistente. Até que os compradores desistiram do negócio.
“Você vai ali colher o que ainda aparece e a indústria rejeita porque não consegue secador. Não consegue secar porque a umidade é muito alta”, lamenta Barcelos.
O agricultor não faz ideia do tamanho do prejuízo. Sequer sabe como e quando voltará a produzir. Situação que se estende aos demais produtores da região.
“Temos vizinhos que perdeu a máquina. Ficou lá na lavoura e a água subiu e tapou a máquina, tapou o trator, tapou o graneleiros e ainda tapou o silo”, conta Barcelos.
Solução
Para especialistas nessa área da economia, os pequenos produtores não terão condições de se reerguerem sozinhos. “Vai ter que existir um plano que vai envolver vários aspecto. Tanto aspectos de financiamento, subsídios, quanto incentivos maiores às políticas de seguro”, avalia Leandro Gílio, pesquisador do Insper Agro Alobal e doutor em economia aplicada.
“O produtor vai precisar de um prolongamento em relação a essas dívidas. Ee não vai ter capacidade de executar essas responsabilidades financeiras de imediato. Então, o prolongamento é essencial nesse momento”, analisa Gílio. “Um outro desafio será distribuir o que já foi colhido, por causa da logística. Há estradas bloqueadas. Isso tem isolado parte das propriedades rurais”, afirma o economista.
No caso da pecuária, acrescenta Gílio, a questão é ainda mais delicada. “Se a gente for pensar nas cadeias pecuárias complica um pouco mais, porque, às vezes, não está chegando ração e alguns insumos não estão conseguindo chegar até a produção”, descreve o economista.
Promessa
Os produtores aguardam com ansiedade novas medidas por parte do governo federal, como a anunciada semana passada pelo ministro da agricultura, pecuária e abastecimento, Carlos Fávaro. “Nós teremos uma medida provisória, muito em breve, que vai dar benefício aos produtores de arroz do Rio Grande do Sul. As coisas estão acontecendo, só temos que evitar a especulação, o desabastecimento."
Ainda não foi anunciada uma medida específica para a soja, que, por enquanto,insere-se em políticas mais genéricas adotadas pelo governo federal. Nesse sentido, Fávaro adiantou a ideia de criar um “gabinete itinerante” no Rio Grande do Sul para tratar da recuperação da agropecuária. Segundo o ministro, o órgão deve ser instalado depois da conclusão das primeiras medidas de socorro aos produtores rurais, como linhas de crédito.
Esperança
Mesmo com a situação precária, produtores como Barcelos não pensam em desistir e já sonham com a próxima safra. “A gente só não desanima porque a gente ainda está vivo”, diz o agricultor.
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