Nova variante detectada na África do Sul preocupa cientistas.

Do ponto de vista genético, ela tem um número de mutações elevado, cerca de trinta delas na proteína spike.

Nova variante detectada na África do Sul preocupa cientistas.

A comunidade científica espera com preocupação os resultados das primeiras análises da nova variante da Covid-19 que foi detectada pela primeira vez na África do Sul, especialmente o seu grau de resistência às vacinas.

Por que ela é preocupante?

"Esta é preocupante, e é a primeira vez que afirmo isso desde a Delta", escreveu no Twitter o virologista britânico Ravi Gupta sobre a nova variante denominada B.1.1.529.

Do ponto de vista genético, ela tem um número de mutações elevado, cerca de trinta delas na proteína spike, a chave de entrada do vírus no organismo.

Com base na experiência de variantes anteriores, sabe-se que algumas dessas mutações podem representar um aumento na capacidade de transmissão e uma diminuição na eficiência das vacinas.

"Pensando em termos de genética, é certo que há algo muito particular que pode ser preocupante", disse à AFP Vincent Enouf, do Centro Nacional de Referência de vírus respiratórios do Instituto Pasteur de Paris.

Além disso, preocupa o fato de que o número de casos e o percentual atribuído a esta variante estão aumentando de forma muito rápida na província sul-africana de Gauteng, que compreende as cidades de Pretória e Johanesburgo, onde foi detectada pela primeira vez.

Serão necessárias "várias semanas" para compreender melhor a nova variante e saber se ela é mais transmissível, mais perigosa e mais resistente às vacinas, destacou a OMS (Organização Mundial da Saúde) nesta sexta-feira (26).

"É preciso ser razoável, continuar monitorando e não alarmar completamente a população", ressaltou o especialista do Instituto Pasteur.

Ela vai superar a variante delta?

Esta é a pregunta de 'um milhão de dólares' que ninguém é capaz de responder neste momento.

A variante Delta é praticamente hegemônica em todo o mundo graças às suas características, que lhe permitiram substituir a Alfa.

A Delta é a mais robusta e a de transmissão mais rápida. As variantes Mu e Lambda, que surgiram nos últimos meses, não foram capazes de superá-la.

Os cientistas chegaram a pensar que a próxima variante preocupante seria o resultado de uma evolução da Delta. Contudo, a B.1.1.529 é de uma cepa completamente distinta.

A situação na província de Gauteng gera o temor de que essa nova variante possa se sobrepor à Delta, mas ainda não há certeza sobre isso.

"Pode ser que um grande acontecimento de supercontágio [um único acontecimento que provoca um grande número de casos] relacionado com a B.1.1.529 dê a impressão falsa de que ela pode superar a Delta", opina a especialista britânica Sharon Peacock, citada pela organização Science Media Centre.

Por outro lado, a nova variante parece se expandir por toda a África do Sul, o que seria mais um sinal de sua capacidade de rivalizar com a Delta.

É possível impedir sua expansão?

Menos de 24 horas depois da apresentação da variante por parte das autoridades sul-africanas, muitos países europeus suspenderam os voos provenientes da África austral.

Contudo, a Bélgica já anunciou o primeiro caso na Europa. Trata-se de um indivíduo não vacinado que viajou ao exterior.

Suspender os voos "é uma medida que permite desacelerar" a expansão de uma variante muito contagiosa, "mas não consegue interrompê-la completamente", disse Enouf, que lembrou os precedentes de Alfa e Delta.

Alguns cientistas pedem o fechamento das fronteiras com esses países o mais rápido possível, como medida de precaução, para reabri-las logo que se dissiparem os temores.

Outros especialistas consideram o fechamento prejudicial à África do Sul e ao Botsuana, outra nação que registrou a nova variante. Temem que isso seja contraproducente e leve outros países a tentar mascarar o surgimento de novas variantes no futuro.

A OMS também desaconselhou a restrição viagens neste momento.

Qual é o seu impacto sobre as vacinas?

Ainda não é possível afirmar que a nova variante reduzirá a eficiência das vacinas.

"É preciso verificar se os anticorpos produzidos pelas vacinas atuais continuam funcionando, até que nível e se impede os casos graves", explicou Vincent Enouf.

Para isso, estão sendo realizados testes em laboratório e com base nos dados reais nos países onde circula a variante.

O laboratório alemão BioNTech, que desenvolveu um dos imunizantes atuais em pareceria com a Pfizer, espera os primeiros resultados, "o mais tardar dentro de duas semanas", relacionados à variante, disse um porta-voz à AFP.

"É urgente adaptar as vacinas de RNA mensageiro e as doses de reforço às variantes em circulação", assinalou no Twitter o virologista francês Etienne Decroly.

Apesar de tudo, a vacinação continua sendo essencial. Nesse sentido, é preciso que os países mais pobres tenham acesso aos imunizantes, insistem os cientistas.

"Quanto mais o vírus circular, mais ele vai evoluir e veremos mais mutações", advertiu Maria Van Kerkhove, uma das responsáveis da OMS.

 

 

Fonte: AFP

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