O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, alertou, nesta sexta-feira (20), que até o final de abril o sistema de saúde brasileiro pode entrar em colapso provocado pela pandemia do novo coronavírus. A frase dita ao lado do presidente Jair Bolsonaro em uma videoconferência com empresários representa um agravamento no tom adotado até agora pelo integrante do primeiro escalão da Esplanada dos Minsitérios.
“Claramente, no final de abril nosso sistema de saúde entra em colapso. Colapso é quando você tem dinheiro, mas não tem onde entrar [nos hospitais]”, afirmou, Mandetta. O ministro disse que quer evitar esse cenário. “A gente está modelando para ver se trabalhamos com algumas interrupções, segurando o máximo dos idosos, que são quem leva ao colapso do sistema”, afirmou.
A previsão do ministério é de um aumento rápido de casos em abril, maio e junho e uma queda da curva de infecção só em setembro, “desde que a gente construa a chamada imunidade em mais de 50% das pessoas”, segundo Mandetta.
Em coletiva à imprensa um pouco mais tarde, porém, modulou o tom. “Eu estava explicando para eles [empresários] o que é colapso no sistema. Tumulto, emergências superlotadas, isso existe em todo o mundo. Temos um sistema forte, com capilaridade nacional. Se não fizéssemos nada, não aumentássemos a nossa capacidade, esse sistema do jeito que está, ainda aguardaria 30 dias”.
Em seguida, destacou medidas que vêm sendo colocadas em prática pelo governo, como ativação de leitos de UTI e ainda reclamou: “Pinçar uma frase e dizer: essa é a manchete do dia... Podemos ter vários graus de problema e trabalhar com todos.”
Nesta sexta, o ministro também afirmou que o governo federal vai facilitar a liberação de R$ 10 bilhões aos planos de saúde para que as operadoras usem parte do dinheiro para comprar equipamentos e reforçar leitos. O objetivo é não sobrecarregar ainda mais o SUS (Sistema Único de Saúde).
Os recursos fazem parte do fundo garantidor do sistema, vinculado à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), e servem como uma garantia caso haja comprometimento nas atividades dos planos. Segundo Mandetta, 20% desse valor poderá ser usado em ações como construção de hospitais e compra de equipamento.
Há 621 casos confirmados e 6 mortes em todo o País, segundo balanço divulgado pelo ministério nesta quinta-feira (19). O número de infectados era de 428 na quarta-feira. Foi um aumento de 45% dos casos em apenas um dia. Os dados não incluem mortes e infecções nas últimas 24 horas. O total de óbitos já chega a 11.
De acordo com a pasta, o Brasil tem “transmissão sustentada” da doença em ao menos 6 estados: São Paulo, Pernambuco, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. Quando se fala em transmissão comunitária, significa que não é mais possível saber a cadeia de transmissão do vírus.“À exceção da região Amazônica, todas as outras regiões têm aumentos sistemáticos [de casos da doença] em bloco”, disse o ministro da Saúde, nesta quinta.
Entre as medidas já adotadas pelo governo federal estão a ampliação do horário de funcionamento dos postos do programa Saúde na Hora, que ficam abertos até 22h; contratação de mais 5.811 médicos e distribui kits de testes nos estados.
Em São Paulo, cerca de 2 mil leitos hospitalares serão montados e adaptados no Estádio do Pacaembu e no Parque do Anhembi para atender possíveis demandas de atendimento devido ao surto de coronavírus.
Mesmo com a alta capacidade de disseminação do novo coronavírus, em cerca de 80% dos casos de contaminação, os sintomas aparecem de forma leve. Menos de 5% dos casos evoluem para um quadro grave. A principal preocupação é com idosos e pessoas com doenças crônicas. Em infectados com menos de 50 anos, a taxa de mortalidade é de menos de 1%.
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