Governo de SC diz que pico da Covid-19 será em junho; estudiosos alertam para aumento na taxa de transmissão.

Com o índice atual, seriam 120 mil casos até o fim de julho. Em um mês, número de pacientes confirmados pelo governo do estado mais que dobrou.

Governo de SC diz que pico da Covid-19 será em junho; estudiosos alertam para aumento na taxa de transmissão.

A Secretaria da Saúde de Santa Catarina revisou a data e agora projeta que o pico da pandemia do coronavírus no estado deve ocorrer até o fim de junho. Técnicos do governo defendem que a curva de casos está controlada, mas um grupo de pesquisadores que estuda a Covid-19 no Brasil alerta que a taxa de transmissão do vírus de pessoa para pessoa voltou a subir.

A pandemia do novo coronavírus chegou a Santa Catarina no final de fevereiro. Naqueles primeiros dias, a taxa de transmissão era 2 e 2,5, ou seja, cada catarinense poderia contaminar esse número de pessoas. Em meados de abril esse índice chegou a ser de 1,5 e, no fim daquele mês, foi para 1.

"Em alguns momentos, a taxa baixou de 1, quer dizer que, em alguns momentos, a nossa transmissão era menos de uma pessoa por vez, o que começa a mostrar um declínio da infecção", disse João Ricardo Vissoci, pesquisador do Covid-19Br.
Vissoci é cientista especialista em análise de dados em saúde e faz parte de um grupo de pesquisadores que estuda o avanço do coronavírus no Brasil. Ele acredita que a queda da taxa de transmissão aconteceu principalmente por causa das medidas de isolamento social que começaram em 18 de março.

A maioria dessas regras já foi afrouxada pelo governador Carlos Moisés (PSL), e a que permitiu a maior circulação de pessoas foi liberada há quase um mês: o comércio de rua. Duas semanas depois, a taxa de transmissão do vírus voltou a subir. Na semana passada, já chegou a perto de 1,5.

Segundo o cientista, observar esse índice é importante para prever quantas pessoas vão se contaminar futuramente.

Com a taxa atual, seriam 120 mil casos ao fim de julho. O cenário mais otimista só seria realidade se a transmissão recuasse de novo para 1: com esse número, Santa Catarina chegaria no mesmo período com 30 mil infectados.

Previsão de pico

O governo do estado projeta o pico da pandemia para o mês que vem, previsão que já chegou a ser adiada pela Secretaria de Saúde ao longo do avanço da doença.

"Nós estamos agora praticamente fechando dois meses de enfrentamento da pandemia, apontava-se lá no início que talvez o pico fosse em um mês e meio, dois meses, essa era a perspectiva. Mas tudo que foi feito e discutido, já colocado aqui, fez com que esse pico, essa curva achatada aqui, fosse jogando essa necessidade lá pra frente. Não quer dizer que o pico no final de junho, metade de junho, seja num quantitativo que vai extrapolar a nossa capacidade instalada no estado", disse André Motta, secretário de Saúde.

Em um mês o número de casos confirmados pelo governo mais que dobrou, passando de 1.458 para 3.429. O estado justifica o aumento dizendo que passou a integrar os resultados dos testes rápidos aplicados pelos municípios e que começou a fazer confirmações clínicas para coronavírus, ou seja quando o médico confirma a doença sem fazer o teste.

Desde o início da pandemia o governo admite que há subnotificação de casos. Porém, a Secretaria da Saúde disse que o número de óbitos não está subnotificado, ou seja, não haveria mortes por Covid-19 fora dos dados oficiais porque todas são testadas para a doença.

A secretaria disse também que usa os dados sobre as mortes para planejar medidas como a flexibilização das medidas de isolamento, porque seriam informações mais confiáveis que o número de casos. Além desse, a secretaria disse que usa a taxa de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para se planejar.

Hoje, 17% dos leitos disponibilizados pro tratamento da Covid-19 estão ocupados. Entretanto, o pesquisador diz ser perigoso usar essa estatística como base.

"A gente tem que sempre lembrar que os dados de hoje representam cenário de 20, 30 dias atrás. Então, as UTIs não utilizadas hoje representam potencialmente o impacto desse isolamento que foi feito 30 dias atrás", declarou Vissoci.

Alessandro Silveira, professor de microbiologia da Universidade Regional de Blumenau (Furb) lembra que as temperaturas frias do outono e do inverno podem complicar ainda mais a rede de saúde.

"O aumento das doenças respiratórias, esses números vão aumentar. Já é esperado que comece a aumentar. Então, até que ponto a gente pode considerar os dados anteriores como parâmetro?", questionou.

Na opinião de Vissoci, para o estado flexibilizar o isolamento social, seriam precisos três pré-requisitos, dos quais dois o governo catarinense já tem: saber onde o vírus está e projetar o crescimento de casos. O terceiro ainda não está disponível: não há vacina e nem remédio.

"A doença não vai embora, ela vai continuar com a gente até a gente ter alguma forma de imunizar de forma mais consistente, que não existe no mundo ainda", declarou.

 

 
 
 
Fonte: G1
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