O Plano Nacional de Fertilizantes, anunciado recentemente pelo Governo Federal, traz três metas “ousadas” para alguns nutrientes, especialmente para os que compõem a conhecida fórmula NPK:
- Atingir a produção de 1,6 milhão de toneladas de nitrogênio ao ano em 2025, 1,9 milhão em 2030, 2,3 milhões em 2040 e 2,8 milhões em 2050 (em termos de capacidade instalada);
- Aumentar 3% ao ano a exploração de rocha fosfática no Brasil até 2030 e 2% até 2050, alcançando, respectivamente, a produção de 14 milhões t/ano e 27 milhões t/ano;
- Elevar a produção nacional de potássio a, pelo menos, 2,0 milhões de toneladas até 2030; 4,0 milhões de toneladas até 2040 e 6,0 milhões de toneladas até 2050, em termos de capacidade instalada.
Para discutir a viabilidade técnico-econômica e operacional do Plano, assim como a questão da dependência que o Brasil tem do exterior de matérias primas para fertilizantes – assunto que ganhou os holofotes com o conflito Rússia x Ucrânia, a revista Brasil Mineral realizou, na tarde do dia 17 de março, com transmissão ao vivo em seu canal no Youtube, o webinar: “Fertilizantes: como reduzir a dependência externa?”.
Participaram do encontro Márcio Remédio (diretor de Geologia e Recursos Minerais do SGB-CPRM), Luís Maurício Azevedo (presidente da ABPM) e Antenor F. Silva Júnior (membro do Conselho Consultivo da Brasil Mineral), além dos diretores da Brasil Mineral Sérgio de Oliveira e Francisco Alves.
Segundo informou Márcio Remédio, os diagnósticos e projeções do PNF consideraram três cenários – “nas condições atuais, na expansão dos projetos existentes e com novas descobertas, sendo que para o aumento da produção serão necessários ajustes tributários e tecnológicos, além de incentivos para a exploração mineral”. E, considerando um cenário mais otimista, Márcio acredita que é possível atingir as metas propostas – “o plano foi elaborado por diversos setores, com capacidade de análise efetiva, o que aumenta a sua credibilidade”.
Para Luís Maurício Azevedo, da ABPM, o tema “invade” a casa e influencia a mesa dos brasileiros: “apesar de exportarmos 49% da produção agrícola, o restante é consumido internamente. A dependência externa de insumos para a produção de fertilizantes não é nenhuma novidade e o Plano evidencia o aspecto da concentração, onde 15 empresas controlam praticamente todo o mercado mundial de fertilizantes. Se o Plano não funcionar, os maiores impactos serão sentidos na economia”.
Em sua análise, Luís Maurício avalia que existem meios acessíveis de substituir uma eventual falta de nitrogenados, ficando para fósforo e potássio as principais dúvidas do setor. Hoje, a reserva brasileira de 2,3 milhões t de potássio deve se extinguir em alguns anos – “para cumprir a meta do PNF, seria necessário dobrar a reserva de Taquari-Vassouras, que sabemos estar acabando”. Um problema considerando que outra reserva conhecida, a da Carnalita, já consumiu mais de US$ 1 bilhão em investimentos para um retorno incerto, devido ao baixo teor do minério (8,3%). Quanto aos depósitos da Amazônia, Azevedo ressaltou que estão ainda em fase de brownfield e sua construção ainda levará um tempo.
Antenor F. Silva Jr, que participou da elaboração do primeiro Plano Nacional de Fertilizantes, elaborado na década de 1970 pelo então Ministério da Indústria e Comércio, julga ser aquele programa mais factível que o atual: “o recente Plano Nacional de Fertilizantes é uma obra de ficção gráfica, considerando os problemas a serem resolvidos. Não temos, por exemplo, rocha fosfática e as jazidas conhecidas foram desenvolvidas por ocasião do primeiro plano, com firme apoio do BNDES”. De acordo com Antenor, as principais possibilidades de exploração de rocha fosfática conhecidas estão nas chaminés alcalinas de Minas Gerais e Goiás, começando a surgir algumas na Amazônia também. Quanto ao potássio, Antenor classifica como viáveis as jazidas da Amazônia, mas lembra que existe excesso de produção no mundo – “hoje consumimos de 70% a 80% da capacidade mundial, cuja produção está concentrada na Rússia”.
Márcio reafirmou que existem grandes reservas de potássio da Amazônia e que o projeto ainda não se viabilizou por uma questão de “conflito de áreas”, salientando ainda que um país com vocação agrícola não pode ficar restrito às importações de insumos para fertilizantes. No tocante à produção de nitrogenados, Márcio destacou que a Lei do Gás deverá trazer, em médio/longo prazo, o desenvolvimento dessa indústria no País e que outra alternativa que se mostra viável, no caso a indústria carboquímica do Sul, precisa vencer o impasse do licenciamento ambiental.
A maior preocupação, segundo o representante da SGB-CPRM, é em relação aos fosfatados, uma vez que o Brasil depende “de grande volume de importação de um único lugar”.
Luís Maurício disse que não adiantam grandes projetos enquanto houver desperdício no uso de fertilizantes no Brasil e elogiou o fato de o PNF considerar o aspecto da sustentabilidade, o que depende de um processo educacional do produtor e do desenvolvimento de novas tecnologias, o que deve ficar “sob a responsabilidade da iniciativa privada, cabendo ao Governo garantir um bom ambiente regulatório. Dessa forma, o retorno é mais rápido e a eficiência do recurso é maior”.
Na busca pela eficiência do uso de fertilizantes, Antenor ressaltou o uso do calcário agrícola para a correção de acidez do solo e disse ter sentido falta desse ponto no PNF.
O especialista acrescentou também que hoje a maior reserva de potássio do Brasil está no pré-sal (formado por cloreto de potássio e cloreto de sódio) e que, apesar de ter apresentado essa “ideia revolucionária” há dez anos, ainda acredita ser possível fazer a exploração através de “solution mining”.
As conclusões deste debate serão publicadas na próxima edição da revista Brasil Mineral. Até lá, é possível rever as apresentações em nosso canal no Youtube. Não deixe de se inscrever!
Fonte: Brasil 61
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