Santa Catarina teve pelo menos cinco episódios de chuvas fortes com enchentes ou alagamentos, prejuízos, pessoas desabrigadas e até mortes no decorrer de 2022. O episódio mais recente ocorreu no início desta semana. O Estado foi atingido por chuvas fortes entre domingo (18) e quarta-feira (21), com um saldo de duas mortes registradas em Camboriú, no Vale do Itajaí. Duas jovens morreram após a casa em que elas moravam ser atingida por um deslizamento de terra.
A chuva da semana do Natal também provocou estragos em rodovias de SC. O caso mais crítico foi o da BR-101, que teve o fluxo bloqueado em trechos de Piçarras, Balneário Camboriú e Palhoça. Neste último ponto, um deslizamento no Morro dos Cavalos resultou em filas de mais de 30 quilômetros.
O Estado já havia sofrido com alagamentos no início do mês. Mais de 30 cidades tiveram estragos informados à Defesa Civil e três mortes foram registradas. Municípios como Benedito Novo, no Vale do Itajaí, assistiram à elevação do nível do rio com “dias de terror”, conforme relataram moradores.
Eventos extremos como os sofridos por SC expõem a necessidade cada vez maior de prevenção, monitoramento e resposta para a população. Na ponta da proteção, que passará até mesmo a fazer parte do nome da pasta a partir de 2023, a Defesa Civil estadual destaca a existência de radares meteorológicos. Os equipamentos seriam capazes de identificar antecipadamente o risco desses fenômenos, o que permite avisar os municípios e a população. Atualmente, um sistema de envio de SMS é o principal canal para alertar moradores.
A ampliação desses meios para comunicar o risco de cheias ou estragos aos moradores é um desafio frequentemente apontado por especialistas após cheias ou calamidades em SC. O chefe da Defesa Civil de SC, David Busarello, defende que os comunicados por SMS são eficientes, mas diz que uma maior divulgação dessas previsões depende também de ação dos municípios. Ele afirma que planos de contingência municipais podem definir cotas de enchente das ruas, reunir orientações sobre como agir em situações de crise e definir como a informação seria repassada às localidades com maior rapidez, de acordo com a realidade local. Para isso, no entanto, ele frisa que as cidades poderiam olhar com mais prioridade para a área.
— A Defesa Civil não pode ser mais a “quinta roda da carroça”, ela tem que ser colocada com orçamento dentro dos municípios, com participação, para que a gente possa evoluir — aponta.
Reforço para radares e barragens
O campo da proteção também tem investimentos em andamento. O chefe da Defesa Civil destaca a obra para instalação de um radar meteorológico em Joinville e o projeto de outra estrutura desse tipo em Florianópolis. A ideia é que esses equipamentos permitam monitorar também eventos da natureza com impacto local nas regiões. Hoje, SC já tem radares meteorológicos em Chapecó, Lontras e Araranguá.
O Estado também implantou um sistema de monitoramento com 37 estações ao longo da Bacia do Rio Itajaí, no Vale. Os equipamentos medem nível de rio e volume de chuva em tempo real nas 51 cidades por onde passa o rio — região que constantemente sofre com cheias.
Outra área que o dirigente aborda como um ponto de melhoria identificado pelo Estado é a contenção de cheias. Ele cita como ações já adotadas uma barragem em Botuverá, que deve ser utilizada também para captação de água e será licitada pela Casan. A estrutura poderia elevar em até 1,20 metro a cota de enchente em Brusque, tendo reflexos também em Camboriú e Itajaí. Outros reforços em vista e com licitação a caminho seriam também a construção de barragens em Mirim Doce e Petrolândia e a reforma da estrutura de José Boiteux, a maior do país em contenção de cheias e desativada desde 2014 por conta de depredações.
— Eu costumo dizer que antes acontecia um evento a cada quatro anos, agora temos quatro eventos a cada ano. A gente já pode ver isso dentro do nosso Estado. Então, não temos dúvida alguma de que precisamos seguir evoluindo de maneira significativa na Defesa Civil — aponta Busarello.
Confira abaixo os episódios de cheias em cidades de SC em 2022
Maio
O primeiro grande registro de cheias em cidades de Santa Catarina em 2022 ocorreu nos primeiros dias de maio. As ocorrências envolveram deslizamentos, alagamentos, enchentes, inundações, famílias desabrigadas, desalojadas e até mortes. O mau tempo foi causado por um ciclone extratropical, que também gerou fortes ventanias e maior agitação no mar. Em Blumenau e Rio do Sul, no Vale, o rio passou de oito metros, o que configurou situação de enchente. Duas pessoas morreram afogadas dentro de um carro que foi parar em um rio por conta das chuvas, em São Joaquim, na Serra Catarinense.
Agosto
Um ciclone se deslocou sobre o mar e provocou estragos em mais de 50 cidades de SC na semana do dia 10 de agosto. Moradores acordaram com água dentro de casa e com danos causados pelo vento forte, que chegou a 90 quilômetros por hora. Entre as ocorrências estavam destelhamentos, queda de muros e de árvores.
Outubro
Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí, enfrentou uma nova enchente em 11 de outubro. Ao menos 84 pessoas ficaram desabrigadas e três abrigos foram ativados. Um motorista chegou a ser arrastado pela correnteza e foi salvo pelos bombeiros depois de o carro ter sido “engolido” pelas águas.
Fonte: NSC Total
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