Uma pesquisa realizada pela Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) mostrou que os casos de depressão aumentaram em 50% durante a quarentena por conta da covid-19, e a ansiedade e o estresse, em 80%.
A pesquisa foi realizada por meio de questionário online com 1.460 pessoas em dois momentos: de 20 a 25 de março e de 15 a 20 de abril.
O psicólogo Yuri Busin, Diretor do Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio (CASME), explica que a situação gerou um medo muito intenso nas pessoas, o que acarretou a piora e o surgimento de transtornos psicológicos.Ele explica que a piora da saúde mental ocorre por múltiplos fatores como a solidão, o medo de ficar doente, não sair ao ar livre e a falta de perspectiva para o futuro. “Por mais que a gente nunca tenha segurança sobre o futuro, essa é uma situação muito inesperada e gera medo, angústia e ansiedade.”
De acordo com dados da pesquisa, mulheres estão mais propensas a sofrer com estresse e ansiedade. Outros fatores que contribuem para o quadro são alimentação desregrada, doenças preexistentes, ausência de acompanhamento psicológico, sedentarismo e a necessidade de sair de casa para trabalhar.
Para a depressão, os fatores de risco apontados pela pesquisa são idade avançada, ausência de crianças em casa, baixo nível de escolaridade e presença de idosos no ambiente doméstico.Daniel Oliveira dos Santos, 23, engenheiro de automação mecatrônica, mora com o irmão e tem claustrofobia, ansiedade e Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Para ele, o que mais afeta é ficar o dia inteiro no mesmo ambiente e a falta de contato com amigos e familiares.
“Apesar de morar com o meu irmão eu quase não o vejo, ele trabalha o dia inteiro e só volta à noite. Mesmo quando ele está aqui, evitamos contato.”
O engenheiro afirma que a quarentena piorou seu quadro psicológico. “Meio que os três [transtornos] estão interligados. A claustrofobia dá a sensação de que estou preso, isso aumenta a ansiedade e fica difícil controlar o TDAH, já que sou muito hiperativo e quero gastar energia, e aí só tem dentro de casa para fazer isso, o que também aumenta a ansiedade.”
Daniel conta que voltou a ter episódios de insônia e crises de ansiedade toda a semana. “Eu tive insônia no passado, mas eu tratei e já havia uns anos que não tinha. Eu sou ansioso clínico, mas antes da pandemia eu não tinha crises de ansiedade.”A pesquisa também mostrou que as pessoas que fizeram acompanhamento psicológico pela internet apresentaram índices menores de estresse e ansiedade. Busin afirma que muitos pacientes que já tinham ansiedade relatam saber lidar com as crises.
“Desde o começo da quarentena eu trabalhei muito com meus pacientes para que consigam controlar as emoções, então agora a maioria está bem estável. Claro que varia de uma semana para outra e muitos pacientes acabam conhecendo alguém que faleceu, que é um momento triste mesmo.”O psicólogo explica que os efeitos da quarentena vão ser diferente para cada pessoa e que depende da personalidade de cada um.
“Vai ser diferente para uma pessoa que já trabalhava em home-office, por exemplo, já que a mudança de rotina não é tão grande. Mas não dá para saber para quem vai ser mais difícil. Você pode ter uma pessoa idosa que lide muito bem e outra que tenha mais dificuldade, uma pessoa que não sai desde o começo e está bem e outra que precisa sair, mas fica com medo de ficar doente.”
Comentários