Entre perdas materiais e vidas ceifadas pela Covid-19, o atípico ano de 2020 terminou com ao menos uma notícia positiva para a economia de Santa Catarina: as vagas de trabalho fechadas no período mais agudo da pandemia do novo coronavírus foram repostas, num sinal de fôlego e retomada do setor produtivo. De março a maio, quando vigoraram medidas restritivas mais rígidas que limitaram a capacidade fabril de indústrias e o atendimento no comércio e no setor de serviços, o Estado viu derreterem 110.423 postos de trabalho formais, com carteira assinada.
A curva do desemprego começou a inverter em junho, no rastro das flexibilizações das atividades. Com as 33.004 vagas abertas em novembro, a economia catarinense zerou o déficit provocado na largada da crise sanitária, acumulando a criação de 127.663 empregos desde então. Os dados foram extraídos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia.
Entre os setores, a indústria havia perdido 47.057 empregos entre março e maio. Abriu 52.153 entre junho e novembro. Com 28.576 postos de trabalho gerados nesses últimos seis meses, o comércio repôs os 23.442 que desapareceram no início da pandemia. O setor de serviços, que perdera 37.176, contratou 39.997 pessoas desde então. Com 5.052 vagas, a construção civil cobriu o buraco das 4.609 que ficaram pelo caminho no auge da crise sanitária. Apenas a agropecuária, com 1.885 empregos abertos a partir de junho, ainda não compensou os 3.139 perdidos entre março e maio.
Só no fim de janeiro serão divulgados os números da geração de emprego de dezembro, quando então será possível fazer um balanço do ano. Historicamente, trata-se de um mês negativo – média de 23 mil postos de trabalho fechados entre 2017 e 2019. Isso porque muitos contratos são encerrados nessa época, quando as empresas fazem ajustes no quadro com vistas ao exercício seguinte. Mesmo que esse desempenho se repita em 2020, o Estado, que acumula saldo positivo de 67.134 empregos entre janeiro e novembro, fechará o ano no azul. Já é uma enorme vitória diante de tudo que aconteceu.
O cenário ilustra a resiliência de empresas e empreendedores, mas convém não subestimar o poder do vírus. Santa Catarina, afinal, levou meio ano para recuperar estragos provocados em três meses. Neste ponto, o Estado se saiu melhor que a média nacional: de março e maio, 1.586.310 contratos de trabalho acabaram encerrados no Brasil. Entre junho e novembro, foram repostas 1.473.377 dessas vagas. Ou seja, no país, pela estatística oficial, ainda há um saldo negativo de 113 mil empregos desde o início da pandemia.
Lideranças empresariais e políticas costumam creditar a reação mais rápida de Santa Catarina em cenários de crise à diversidade econômica do Estado, com polos regionais bem definidos, e ao perfil empreendedor de quem está à frente dos negócios. Mas é preciso considerar que a política de flexibilizações do governo, fragilizado por processos de impeachment e pressionado por prefeitos e entidades representativas, e a fiscalização falha em muitos casos geraram uma condição de “quase normalidade” à economia catarinense nos últimos meses. Isso também contribuiu para os bons resultados.
As liberações de agora em plena temporada de verão, em nome da economia e contra a clandestinidade, foram bem recebidas pelo setor turístico, um dos mais afetados pela pandemia. Com razão, empresários do ramo pedem segurança jurídica para trabalhar, algo que o Estado tratou de não proporcionar ao deliberar sobre as regras em cima da hora. Por outro lado, é inegável que o “libera geral”, comprovado pelas frequentes aglomerações vistas em praias e bares ao longo do Litoral, se transformará em maior volume de contaminados nos próximos dias.
Comentários