Alesc debate propostas sobre Previdência de SC e desconto de 14% a aposentados.

Mudanças no regime de contribuição e fim de cobrança de inativos que recebem até três salários estão em discussão na reta final do ano na Alesc.

Alesc debate propostas sobre Previdência de SC e desconto de 14% a aposentados.

Dois projetos com mudanças no sistema de aposentadorias para servidores estaduais de Santa Catarina estão em discussão na Assembleia Legislativa (Alesc) e prometem causar polêmica entre deputados e categorias do serviço público. Ao menos uma proposta tem previsão de ser votada nesta terça-feira (19), que será provavelmente o último dia do ano com sessões na Alesc e promete motivar manifestações de entidades.

As mudanças propostas envolvem dois pontos. Um deles é um desconto de 14% cobrado na folha de pagamento de servidores estaduais aposentados e pensionistas. A cobrança é feita como uma contribuição para ajudar a reduzir o déficit da previdência estadual de Santa Catarina.

Esse desconto de 14% já era feito na folha de pagamentos de servidores inativos que recebem acima do teto máximo do INSS (atualmente R$ 7,5 mil). No entanto, desde agosto de 2021, quando foi aprovada a reforma da Previdência de Santa Catarina, essa cobrança de 14% na folha de pagamento passou a ser feita a todos os aposentados e pensionistas que recebem a partir de um salário mínimo.

Na prática, o primeiro salário é isento, e a taxa de 14% é cobrada do que é recebido acima disso. Para um servidor aposentado que recebe três salários mínimos, por exemplo, a cobrança atual é de R$ 370.

A contribuição gerou reclamações de servidores e sindicatos desde a época da aprovação, mas nos últimos meses mobilizações de funcionários públicos ganharam força para tentar reverter a mudança instituída na reforma da Previdência de Santa Catarina. O governador Jorginho Mello (PL), na campanha eleitoral, também afirmou que iria estudar possíveis mudanças neste desconto dos aposentados, e pediu ao governo uma revisão sobre o tema.

Propostas diferentes de isenção

Atualmente, três projetos propõem mudanças sobre esse ponto. Um deles foi apresentado em novembro pelo governo do Estado. A proposta prevê uma redução escalonada deste desconto. A partir de 2024, a isenção passaria a valer para quem recebe até dois salários mínimos. Em 2025, o limite subiria para dois salários mínimos e meio e, em 2026, chegaria a três salários mínimos. A estimativa é de que nesse ano esse limite em valores será de R$ 4,8 mil. Os valores recebidos acima deste valor passariam a ficar sujeitos ao desconto de 14%.

Os outros dois projetos em discussão na Alesc querem extinguir a cobrança para quem recebe até o teto do regime geral do INSS, hoje R$ 7,5 mil. O desconto continuaria sendo feito apenas para quem recebe acima deste valor. No caso de pessoas com doenças incapacitantes, a cobrança de 14% seria feita somente para quem recebesse o dobro do teto do regime geral do INSS — atualmente, R$ 15 mil. Um dos projetos é do deputado Fabiano da Luz (PT), com assinatura de mais 14 deputados, e o outro texto é de iniciativa popular, apresentado por entidades após reunir mais de 60 mil assinaturas. Os textos ainda aguardam análise das comissões.

O Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público de Florianópolis (Sintespe) defende que a isenção nos moldes propostos pelo governo atingiram somente 3 mil servidores no próximo ano, e que a redução é considerada pequena.
O presidente do Iprev-SC, afirma que o reajuste concedido a servidores do Estado logo após a reforma da Previdência de 2021 acabou compensando a cobrança de 14% criada sobre os aposentados. Apesar disso, afirma que essa foi a proposta possível para não prejudicar mais o equilíbrio das aposentadorias.

— O Estado está abrindo mão de uma receita previdenciária em torno de R$ 670 milhões, é muito dinheiro, mas é o que foi possível fazer sem ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal. A Ideia é permitir a aposentados e pensionistas que sobre mais dinheiro no fim do mês — afirma.

Projeto divide servidores em dois fundos previdenciários

O projeto do governo do Estado para fazer mudanças na Previdência estadual não modifica apenas o desconto de 14% dos servidores aposentados. A proposta também separa os servidores em dois grupos diferentes de contribuição para a aposentadoria.

Aposentados, pensionistas e quem já é servidor do Estado atualmente ficariam no primeiro grupo, batizado de SC Seguro. Ele funciona no chamado regime de repartição — quando os funcionários que estão em atividade contribuem para pagar as aposentadorias e pensões de quem já está inativo.

Servidores que entrarem no governo de Santa Catarina a partir de 2024, no entanto, passariam a fazer parte de um segundo grupo, chamado de SC Futuro. Esta divisão funcionaria no sistema de capitalização. Neste modelo, a contribuição dos servidores é aplicada em um fundo que vai custear a aposentadoria deste mesmo grupo de funcionários públicos quando eles se aposentarem. Além dos descontos dos trabalhadores, o fundo também recebe contribuições do Estado e lucros esperados de investimentos.

O modelo de repartição é o adotado atualmente e é frequentemente apontado como deficitário pelo Instituto de Previdência do Estado de Santa Catarina (Iprev), responsável pela gestão de aposentadorias do Estado. Um dos motivos seria o fato de, com o aumento na longevidade, haver uma queda no número servidores na ativa e um aumento na quantidade dos que recebem benefícios. O Iprev afirma que a média atual é de 0,8 servidor em atividade para cada aposentado do regime próprio, quando o ideal seria uma proporção de quatro para um.

Com a criação do fundo de capitalização, o primeiro grupo poderia ter uma queda de receitas sem a contribuição dos novos servidores. Para isso, o Estado adotaria estratégias como a criação de um fundo imobiliário com prédios do governo para gerar recursos e ajudar a custear os benefícios durante os primeiros anos.

Essa divisão da previdência em dois grupos é chamada pelo nome técnico de “segregação de massas”. O presidente do Iprev-SC, Vânio Boing, defende a medida porque o formato de capitalização para novos servidores permitiria que eles “saíssem” da folha de pagamento do Estado após se aposentarem. Isso porque passariam a ter os benefícios pagos pelo fundo formado pelas contribuições deles próprios, a ser gerido pelo Iprev-SC.

Segundo o projeto do Estado, o déficit da Previdência de Santa Catarina deve ser de R$ 5,4 bilhões em 2023 e tem projeção de R$ 6,1 bilhões para 2024.

— A insuficiência financeira hoje está competindo com o orçamento da saúde, da educação. O que se quer fazer é promover um equacionamento para o déficit através do fundo de capitalização — afirmou.

Projetos podem ir a votação nesta terça

O formato de “segregação de massas”, com a criação de dois grupos para aposentadorias, já foi adotado pelo Estado em 2008, mas a divisão e o fundo de capitalização foram desfeitos em uma reforma da Previdência, em 2015.

As novas propostas foram discutidas na semana passada em uma audiência pública na Alesc. Na ocasião, o Iprev defendeu a medida como forma de dar equilíbrio financeiro ao sistema, enquanto sindicatos afirmaram serem contra a divisão em dois fundos previdenciários diferentes. Embora modifique a divisão dos fundos, a proposta do governo não é tratada pela gestão estadual como uma nova reforma na Previdência por não modificar regras, prazos e critérios para as aposentadorias.

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público de Florianópolis (Sintespe), Marlete Gonzaga, tem visão crítica sobre a proposta de divisão em dois fundos, com um sistema de capitalização.

— Hoje a proporção é de menos de um servidor para cada aposentado. Com esse novo fundo de capitalização, uma poupança individual que vai ser criada para os novos que entrarem, ninguém mais entra no regime atual de repartição. Cada vez mais essa relação vai ser menor, esse fundo vai ser deficitário — sustenta, citando a revisão de benefícios fiscais como possível sugestão para tentar compensar o déficit das aposentadorias.
 
Ao menos o projeto do governo do Estado com propostas de mudanças na Previdência de Santa Catarina deve ser discutido nesta terça-feira, possivelmente o último dia de reuniões do ano na Alesc. O projeto passará por uma reunião conjunta das comissões pela manhã e, se aprovado, pode ser levado ao plenário.
 
 
 
Fonte: NSC
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